sábado, 31 de dezembro de 2011

The End.



2011 foi um ano de fins. E olha só que ironia: o próprio fim dos fins! Eu gostaria que muita coisa tivesse sido diferente, mas já sei que, sem meus erros, não teria adquirido tanta experiência e vivência. Apesar de fins lamentados, há um que permanece pulsando dentro de mim, mesmo após o fim.

Que 2012 seja um ano de começos. Começar a amar mais, viver mais, ler mais, cuidar mais - de si, de quem se ama, do que se quer - e, principalmente, agradecer mais, afinal, você está aqui. E livre.

Viva!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011



Parecendo que o dia principiava uma ponta de nostalgia, mas já era um outro alguém chegando. A voz não tava clara, pressentimentos são confusos como violão que desconhece a melodia. Era como se precisasse elaborar antes de tudo, o sentimento que ela ia trazer, aquela voz. Então, ela determinou com a convicção de alguém que quer parar de beber, de sofrer, de fumar, de comer carne ou de qualquer coisa que incomode de algum jeito, que seria apenas saudável e recíproco. Tava cansada dos olhos afogados na ausência de um perfume ou de uma espécie de lirismo estúpido, como sempre.(Percebeu o final do sufoco na mudança do foco). O que o dia queria dela, trazendo as cores do olhar do passado? Não queria mais aquilo. Tava cansada. Ficou lembrando cenas que nem quis contar porque deu raiva. Que se assim o fim, melhor que assim o fosse. Mas sabia mesmo é que o verde que viria, reflorestaria aqueles olhos de imensas esperanças. Achou boa a sensação que a imagem trouxe e guardou num gesto: fez um movimento de mãos no ar e trouxe pro peito. Sorriu e calou. (E os olhos permeados do mistério bom).


Marla de Queiroz









Estou segura de que existem tempo e surpresas suficientes para que as coisas tomem um rumo mais conveniente, ou pelo menos, justo. Eu me comprometi com o meu melhoramento e isto implica num escancaramento do peito pra enfrentar a vida com sensatez, sem exacerbar ou supervalorizar o desconforto. Então, eu amplio o meu coração para que a gratidão de poder cumprir minha missão com todas as adversidades, apesar e por causa delas, tome conta de todo o meu ser. E que reforce em mim a ousadia e a coragem.
Que nada me tire o poder de criar. É só o que peço. O resto eu agradeço larga e profundamente…

            Marla de Queiroz 



terça-feira, 20 de dezembro de 2011









XIV

Lilases, Túlio, celebremos
O estarmos vivos, milagre
A que os demais assistem
Distraídos, e nós amantes
Nos sabemos perplexos
Floridos e vorazes
Diante deste banquete.
Vívidos, Túlio, celebremos.
Ao rei dos reis, o poeta pede
Paixão-Eternidade, Virtude
Da Razão, ainda que aos vossos olhos
Tais nobrezas a princípio pareçam
Coisa irreconciliável

Mas o difícil em nós
Se faz ilhaneza, porque o poeta
Pede à divindade. Ouro mais raro
É ouro permissível, se no abismo
Em que vive, coexiste
O envoltório do amor. em nós
Convivem, Túlio, os dúplices
Difíceis. Abracemo-nos. Celebra.
Enquanto estamos vivos.


(Árias pequenas - para bandolim, de Júblio Memória Noviciado da Paixão - Hilda Hilst)


Green Attack









Blackbird singing in the dead of night,
Take these broken wings and learn to fly.
All your life, you were only waiting for the moment to arise.


Blackbird singing in the dead of night,
Take these sunken eyes and learn to see.

All your life,
You were only waiting for the moment to be free
.Black bird fly, black bird fly
Into the light of the dark black night.





Sem tentativas, só lembranças.



Dez decisões moldam minha vida, despois desse aniversário, a perspectiva mudou muito. Até mesmo sobre coisas que se manteram diferentemente iguais. Mas eu sinto-me consciente apenas sobre cinco delas. Sete maneiras de ir para a faculdade, mesmo que  eu seja notada ou deixada de fora. Ainda são as sete maneiras de ir em frente, sete razões para não visitar sem avisar.

E eu digo, mesmo depois de tanto, eu posso me ver em teus olhos... mesmo que eu saiba que a tua resposta seria "eu posso te ver em minha cama". Não é só amizade, é também romance mas você não gosta de dizer que sim. Nem que não. Permanece fingindo e fugindo. Mesmo que goste de música, se recusa a dançar comigo.

Me sente.
Me cale.
Eu vou me acalmar.
E eu começarei junto com você.

Tá bom. Existe um momento que todos nós falhamos, ou, talvez, muitos. Algumas pessoas levam isso muito bem, ou fingem que levam. Outras descontam tudo isso nelas própias - o que talvez seja nosso caso. Outras, descontam simplesmente nos amigos - o que é o seu caso só. No fim, todo mundo joga o mesmo jogo e se se escolhe não jogar, pira. Acontece que não, não é mais seguro. Nos perdemos nessa de tentar nos perder. Seria o que? Medo de se encontrar? De me encontrar? De perceber que meu devaneio era mais racional que seu coração gelado?

Todo mundo estava bem vestido. Todo mundo estava uma bagunça. E você estava mais presente por estar ausente. Ah, todas as garotas fazem jogos psicológicos - ainda não aprendeu? Quer mesmo permanecer se machucando? Por que não experimentar de tudo? Se você só lembrará de tudo uma vez.


Somos três. O que, na verdade, é apenas um. Eu, você e ele. Nós. O que nos torna tudo. 
E nada.



Love Hurts







Apenas pare de se machucar,
Dizendo para não tentar, que algum dia… vai passar.
Porque te enganas?
Porque não me chamas?
Se as chamas desse mistério, apagou.
Cinzas,
Aqui restou.
O vento entrou, ficou, soprou.
Nada sobrou.


rafael iotti


domingo, 18 de dezembro de 2011

E sobre a festa do meu aniversário?








New Rules




To every thing, turn, turn, turn,
There is a season
And a time to every purpose under heaven
A time to be born, a time to die.
A time to plant, a time to reap.
A time to kill, a time to heal.
A time to laugh, a time to weep.
A time to build up, a time to break down.
A time to dance, a time to mourn.
A time to cast away stones
A time to gather stones together.
A time of love, a time of hate
A time of war, a time of peace.
A time you may embrace.
A time to refrain from embracing.
A time to gain, a time to lose.
A time to rend, a time to sew.
A time to love, a time to hate.
A time for peace, I swear it's not too late.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

último dia




Amanhã será 16 de dezembro de 2011 (JÁ!). Amanhã será meu aniversário. 20 anos. Um amigo meu me disse que a parte mais triste é nunca mais ter "deze...", talvez a tristeza venha por essa fase DEZ... ter passado. Esse ano foi intenso, como todos os anos da minha vida já foram. Mais dois semestres na faculdade. Mais um emprego que se foi. Mais novas entrevistas que vieram. Mais um namoro que chegou ao fim. Muitos amigos feitos pelo caminho. E bons, muito bons. Perdas e ganhos. Conquistas e derrotas. Como sempre foi, sempre será. Ganhei uma carta ontem, quase anônima, ironizando o quanto tudo sempre é mais difícil e melodramático pra mim, mas me lembrando o quanto isso me torna mais forte - e louca, achando que infinitas-possibilidades é filosofia de vida. E não é? 

O que começou com um verão daqueles inesquecíveis, passou por problemas financeiros (que permanecem), por show mais esperado de todos, punk como way of life, sextas geladas em um bar molhado terminando em muito chororô de bossa-nova. Me abracei em Maysa e Amy, chorei pela dor de nós três. Alguém me disse que era preciso exorcizar a dor e, certamente, mpb nunca foi tão salvadora da pátria. "Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor", aprendi a respeitá-la. Aprendi a não desistir. Aprendi que era melhor deixar ir. A perda, o fim, o escuro da solidão me fez cair ao mesmo frio relento do qual já provei, mas, também, me fez dar passos maiores que meus próprios sonhos. Me descobri mais madura e mais forte, sim. Descobri que o mundo lá fora realmente existe e é muito melhor do que eu imaginava. Descobri o Rio. Descobri o carioca. A praia, o suíngue até no jeito de olhar. Descobri que as possibilidades podem virar realidades e que experiências são melhores do que materialismo.

Perdi o rumo. Perdi o norte. Perdi a cabeça. Bebi, mesmo sem saber. Fugi, mesmo sem ter pra onde. Voltei, mesmo não devendo - mas só pra pegar minhas coisas e ir embora. Aceitei meu caso sério comigo mesma. Fiz um novo blog. Conheci novos timbres. Novos rostos. Novos braços. Mas a tristeza não tem fim, felicidade sim. Olhei de novo e percebi que não merece o afago nem de Deus nem do Diabo. Saí correndo. Antes tarde do que nunca

Laços feitos e desfeitos nunca foram tão intensos. Principalmente os feitos. Construí uma nova família, com Muito Amor. Conheci a franqueza de um Chuck, o idealismo de um Bass, a improbabilidade de um Bobby, a inocência de um Tony, as novas galáxias de um astronauta. Aprendi a rir da própria Psicose, me virar na própria via láctea, que não tinha nada de Wonderland. Irmãos nunca foram tão Hermanos. Fotografias, tão detestáveis, a capacidade de guardar momentos só pra mim tornou-se um privilégio acordado com a minha eternidade. Marthas, Tom, Joãos, Natálias, Clarices, Iottis, Chicos... nunca estiveram tão certos.

19 anos. Continua sendo a lei da selva, Dibob, mas com a vida mais wild.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Veja bem de cara nova (de novo!)








i'm watching you!

Teu Nome É: Ba-ba-ca









"Já faz quase três anos", ele disse, num tom simpático. "Não é possível que você ainda tenha raiva de mim!"


"Bom...", tentei contra-argumentar, "não é que eu não goste de você... mas odiar é uma palavra forte, você não acha?"


"Como assim, eu não falei odiar."


Prossegui, sem prestar muita atenção no que ele dizia: "Ninguém aqui tá falando de nojo. Eu não sinto ânsia de vômito toda vez que alguém menciona seu nome numa conversa de bar."


"Quê?"


"Não é que eu olhe pra você e queira socar essa sua cara estranha e desproporcional até ela ficar ainda mais estranha e desproporcional, se é que isso é possível. Quer dizer, eu disse em algum momento que sentia vontade de cuspir em cima de você, com catarro e tudo? Peraí também, né?! Vamos ser sensatos. Não é como se eu desejasse que seu corpo entrasse em algum tipo de combustão interna e você explodisse e começasse a pegar fogo do nada. E depois você ficasse correndo de um lado pro outro, em chamas, urrando de dor, feito um demente dos infernos, que de fato você é. Seu demente dos infernos."


Ele ficou mudo.


Eu sorri e dei dois tapinhas em seu ombro, como quem diz "desejo tudo de melhor pra sua vida". Vocês sabem, não sou de guardar rancor.




via, claro, Adorável Psicose


Green Green Green



É verde por todos os lados. Por natureza, simples, único, incomparável. Por genética, charmoso e lindo. Pela beleza, por dentro e por fora. Pela cultura que mais ninguém tem. É tão singular que, às vezes, preciso beliscar-me para atestar minha realidade - apesar de meus sentidos sempre estarem perdidos quando estamos em contato. Por ser madrugada, por ser bom demais pra ser verdade. Estamos envolvidos pelos mesmos ideais e pela mesma distância, que quase desaparece em tanta semelhança. Uma nuvem, que nos faz emergir e sobrevoar nossos cotidianos, também verde, não nos deixa esquecermos um do outro. Não nego que seja déjà-vu e também não estou me referindo à situações recentes... falo em outros tempos, coisas até não vividas, ou sim, mas impossíveis de se comprovar. Só nós podemos dizer que isso é verdade. Só nós podemos acreditar. Só nós. Inseridos em mundos tão diferentemente iguais. E não poderia ser diferente. Não comigo. Afinal de contas, um amor impossível só se cura com outro. Igual. Impossível.







quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Morro de Amores



Leblon Nov/2011     |      Do meu Instagram


O Rio. Têm crianças nas praças e praças no morro. Morro de amores. Rio da leveza desse povo, carregado de calor e de luta, povo bamba, que cai no samba, dança o funk e tem suingue até no jeito de olhar. Tem balanço no trajeto, no andar. Andar de cima, tem a música tocando. Andar de trem, tem gente em cima equilibrando. Andar no asfalto os carros quentes vão passando. Andar de baixo tem a moça no quintal cantarolando. Rios e baixadas, com seus vales vale a pena. Sua pobreza é quase mito quando fito o seu contorno, lá do alto de algum dos seus mirantes, que são tantos(!!!).E quem te disse que miséria é só aqui? Quem foi que disse que a miséria não sorri? Quem tá falando que não se chora miséria no Japão? Quem tá pensando que não existem tesouros na favela? Seus santos são fortes. Adoro o seu sorriso. Zona Sul ou Zona Norte, seu ritmo é preciso. Então tudo passa a valer a pena e a alma já não é mais tão pequena


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas.


domingo, 4 de dezembro de 2011






só quero isso. e sozinha.



A afetividade torta





Acho que o maior problema dos relacionamentos contemporâneos é da ordem gastronômica. Da forma como eu vejo - e talvez esteja influenciada pela fome da madrugada - as pessoas são como grandes tortas de sabores variados. Algumas a gente bate o olho e já sabe que vai gostar, às vezes só pelo cheiro. Outras vezes, a gente segue a intuição e só depois descobre que é alérgico a nozes, ou pior, que a torta em questão curte sertanejo universitário.
Mas, ao contrário do que você possa estar pensando, o problema dos relacionamentos contemporâneos não reside no fato de que somos tortas gigantes. Tortas são bonitas e gostosas, na grande maioria das vezes - exceto nas festas de aniversário em escritórios no centro da cidade. A tristeza da coisa está na constatação de que estamos vivendo uma espécie decomidaaquilorização da afetividade. Isso significa que, devido a alta oferta de tortas no mercado, ninguém consegue se focar em apenas um sabor.
O que temos hoje é uma porção de tortas sendo vorazmente garfadas e deixadas de lado, aos pedaços, disformes, tristes. Todo mundo quer um pedacinho de torta, uma fatiazinha fina do tipo "estou-de-dieta-não-quero-muito". Tem sempre alguém querendo dar uma mordiscada, uma lambidinha, uma passadinha de dedo marota. O que ninguém quer - ou tem coragem de fazer - é arriscar e levar a torta inteira para casa.
E essa é a grande lástima da nossa geração. Estamos acostumados a tirar lasquinhas de várias sobremesas e levar à balança do restaurante para pesar. É a insustentável leveza da torta mousse de chocolate e do cheesecake de framboesa. Estamos acostumados a ter muitas, muitas opções de comida. E de pessoas. Conheço gente que tem mais de 1.000 amigos no Facebook. Como se alguém fosse fisicamente capaz de ter mil amigos.
E qual é o resultado disso? Tortas garfadas e destroçadas, sem lugar cativo na geladeira de ninguém, vagando por aí, pelas noitadas, pelas festas, tristes, tortas. E, pouco a pouco, elas vão perdendo a doçura. Vão se tornando descrentes, azedas, estragadas pelo ataque dos garfos despretensiosos.
Somos tortas. Claro que somos comidas. Mas o que eu queria mesmo era experimentar a sensação de ser a preferida de alguém. Aquela que é levada dentro do pacote - o pacote completo, com todos os defeitos e qualidades, com todas as garfadas sofridas, com tudo aquilo que faz de mim a torta gigante que eu sou. Estou farta de me pedirem pedacinhos. Quero ser levada por inteiro.



terça-feira, 29 de novembro de 2011

Sleepy Beauty






Tenho dormido demais. Demais, no sentido "excesso" da palavra. É como se eu pudesse dormir tudo que não dormi em tantos anos. Em tantas tardes, tantas noites. Durmo profundamente, mas não leia isso como "perfeitamente". Pesadelos ou sonhos estranhos continuam me atormentando e, principalmente, os "what if" que a vida insiste em trazer. Mas e se eu não tivesse dito aquilo? E se não tivesse ido? E se tivesse feito tudo diferente? Não gosto de sentir arrependimento, nem pelos meus erros. Tenho procurado me confortar em uma zona de pensamento em que não-arrepender-se, hipotéticamente, me tornaria alguém muito melhor, mais tranquila, mais segura de mim e das minhas ações. Mas, às vezes, acho que essa linha só me afasta do que eu realmente deveria sentir. Culpa. Talvez tudo tenha sido culpa minha mesmo. E, então, não terá sido ele, nem o destino, nem a distância, nem nossas profissões ou famílias ou cabeças diferentes que estragaram tudo. Talvez tenha sido esse excesso. Excesso de amor, de informação, de tempo, de cobranças, de faltas, de falhas. Tentar fingir que não há arrependimento nenhum, culpa nenhuma é como jogar a poeira pra baixo do tapete: em algum momento, depois de algum movimento, ela vai aparecer, maior e mais forte e tudo o que supostamente eu teria construído para superá-la e me livrar, só mostrará que nada foi a não ser uma tentativa nunca alcançada de apagar o passado.

Perceba que até este ponto do texto, falei sobre mais de quatro pontos de vista de uma mesma situação e é exatamente assim que tem sido: sem ponto de chegada, sem ponto de partida. 

A única verdade, limpa, branca, crua é que estamos sós. Exatamente como éramos antes. Exatamente como já previsível seríamos depois. E já somos. Brancos. Nulos. Crus prum mundo inteiro que abre-se bem abaixo nossos olhos. Um mundo que sempre foi o mesmo. O que não é mesmo somos nós, ou melhor, eu e você.






































Vivo com essa sensação de abandono, de falta, de pouco, de metade. Mas nada disso é novidade. Antes dele, teve o outro, o outro que continua indo embora para sempre porque nunca foi embora pra sempre. Eu não sei deixar ninguém partir, eu não sei escolher, excluir, deletar. São as pessoas que resolvem me deixar, melhor assim, adoro não ser responsável por absolutamente nada, odeio o peso que uma despedida eterna causa em mim. Nada é eterno, não quero brincar de Deus.


Tati Bernardi






Eu chorei no domingo, na segunda, na terça, em várias partes do dia e da noite, um choro que pede clemência, de quem está sendo confrontado com a morte, eu estava abandonando uma vida que não teria mais, eu sofria minha própria despedida.


Martha Medeiros



segunda-feira, 28 de novembro de 2011






Eu sou nós.






Aniversariando



Hoje eu lembrei mais uma vez. Mas não foram dos momentos juntos. Pelo menos, não pessoalmente. Lembrei de sempre te dizer o quanto quis acordar do seu lado num domingo de manhã e imaginar que não teríamos hora para sair da cama. E, depois, ir tomar café na padaria e ler o jornal com você. Lembro do tanto que quis ouvir você me contar sobre o trabalho e falar detalhadamente de pessoas que eu não conheço, e nem vou conhecer, como se fossem meus velhos amigos. Quis tanto ver você me olhar entre um gole de café e outro, sem nada para dizer, e apenas sorrir antes de voltar a folhar o caderno de cultura. Desejei a sua mão no meu cabelo, dentro do carro, no caminho do nosso tão planejado apartamento. Sonhei em deitar no sofá e ver você cuidar das plantas, escolher a playlist no ipod e dobrar, daquele seu jeito metódico e perfeccionista, as roupas sempre esquecidas em cima da cama. E então, sem mais nem menos e para completar a cena cinematográfica, você desistiria da arrumação, me jogaria sobre a bagunça, me beijaria e me abraçaria como nunca fez antes com outra pessoa.

Quis tomar uma taça de vinho (vinho não, nescau, coca...) no fim do dia e deitar do seu lado na rede, olhando a lua e ouvindo você me contar histórias do passado. Quis muito escutar você falar do futuro e sonhar com minha imagem nele, já sabendo que eu provavelmente não estaria lá. (E olhe bem como sempre tive razão). Desejei muito que você ignorasse a improbabilidade da nossa jornada e falasse da casa que teríamos no campo. E você, como sempre soube me agradar, sempre a descrevou em detalhes, falando do jardim que construiríamos, e dos cachorros que compraríamos. (Dos que tivemos e não soubemos educar). Sonhei tantas vezes com tua mão nas minhas costas e beijos teus no rosto. 

Mas ainda quero que você nunca perca de vista a música da sua existência, e que me prometa ter entendido que a felicidade não é um destino, mas a viagem. E que, por isso, teremos sido felizes pelos vários domingos na cama e pelos sonhos que compartilhamos enquanto olhávamos a lua - ou as telas de nossos computadores. Ainda quero que  você acredite que não me deve nada simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívida, nem mágoa, nem arrependimento. Então, que não se arrependa, da gente, do que fomos, de tudo o que vivemos. Tudo o que quero é que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. Sempre. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida. Que você nunca mais deixe de pensar em mim quando estiver em Porto Alegre, Ingleses, Barra, Torres, escutar Los Hermanos ou ler meu blog. E, por fim, que você continue a tocar violão na sala. Para sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando."




*este texto contém partes de um texto original de Milly Lacombe





quarta-feira, 23 de novembro de 2011



"Porque a angústia, meu amor, é essa tristeza sem rosto, sem acontecimento, sem desencadeador, sem réu. É de repente não caber em lugar algum e escrever esse amontoado de palavras magoadas com ninguém. Essa angústia a gente não puxa, não escolhe, ela entra na gente assim como a noite caindo lenta e definitiva. E ela aperta teu peito com toda disposição do mundo. Angústia te tira do mundo de fora, te deixa encolhido olhando pra dentro, porque não se pode apontar o dedo e nem colocar a culpa em ninguém, ela simplesmente é esse mal-estar que te faz querer mudar tudo de lugar e se fazer alguns ajustes. Você não vai conseguir sequer fingir que está bem se ela te abraçar. Angústia te deixa enfastiado com a própria rotina, com o seu jeito antigo de conduzir as coisas. Ela te pede morte e renovação. Ela te impõe uma perda irremediável do que você era antes, ela te força a trocar de pele como se você tivesse tomado muito sol …sem proteção. O que a angústia quer de você é a desaceleração pra parar e contemplar e agir de acordo com o que pede a tua sede de alma…

Ela vem pra gritar aquilo que seu coração sussurrou tantas vezes num momento em que você pensava estar ocupado demais para ouvir."



— Sobre a Angústia - Marla de Queiroz


"Eu passeio por tua estrada quando você não está, porque não quero mais vê-lo ou tocá-lo. Eu passeio por tua casa quando você não está,mas não vasculho tuas gavetas, teus segredos, a intimidade repousada no silêncio dos teus bolsos, dos armários: contemplo os móveis, os livros, os discos e tudo o que está exposto__só quero a experiência. Eu passeio por tuas coisas quando você não está, pra aprender com tua casa, tua estrada e o teu mundo a suportar a tua ausência.”


— Vida Clandestina - Marla de Queiroz

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bobby Alien



Tudo ia muito bem no Reino Desunido. Os pássaros cantavam nas janelas, o frio com Sol fazia surgir sorrisos em todos os rostos do reino. Uma nova dinastia estava para nascer. A nova família real tomaria conta do feudo, após vencer na batalha dos mares. Era primavera. As flores apareciam para ver a boa nova acontecendo. Exalavam um perfume inconfundível, marca do Reino. Era tranquilo, era sereno - não necessariamente feliz. Os capitães juntaram-se às forças armadas por terra e pelo ar e tudo parecia muito protegido. Até mesmo os astronautas cuidavam do universo tão particular. 

Toda força e poder não poderiam combater apenas um mortal inimigo: Bobby Alien. O Reino temia tanto que este nome era proibido por lei de ser mencionado. A última vez que aparecera, devastou e arrasou com tudo, não sobrando nada. Ninguém conseguia combate-lo. Parecia ser invencível. Parecia. A calma no Reino era como um ensurdecedor chamado e as autoridades sabiam disso. Foi então que, numa noite fria, enquanto princesas e príncipes dormiam em seus belos castelos silenciosos, Bobby, ultrapassando todas as forças que ali concentravam-se, invadiu o Reino. Seu semblante facial era de alguém que viria para acabar com tudo, novamente. E não restou mais dúvidas. Destruiu grades, queimou tratados, rasgou todas as flores, acabou com todos os sorrisos. Levou consigo o Sol que restava para iluminar. E fugiu. Para uma galáxia muito longe e inatingível.











domingo, 30 de outubro de 2011









Chuck Bass da vida real


Tem todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim. Uma cabeça conturbada igual a minha. Nobreza por berço e por escolha. Participar quase que de forma invisível na vida dele é como compartilharmos nossos mundo numa iCloud da vida real. Essa constante comparação entre o que é realidade e imaginário é o que torna mais e mais intrigante, me fazendo sempre querer voltar, não importa quanto tempo passou. Talvez só apareça quando quero. Talvez apareça quando preciso. Seria o destino tornando-se verdade perante à seis olhos que não acreditam no mesmo? Que tipos de sentimentos podem explicar algo como o que acontece nesse admirável mundo não-revelado? Acredito que na plenitudade dos eventos e das palavras ditas por entre esse tempo, uma única palavra não bastaria para, ao menos, buscar algo de racional do que se passa. É mágico e de pedra. Tão quente quanto um sorvete derretendo ao Sol. Gostos intrelaçados. Trejeitos únicos e nobres que podem ser comparados à velha e extinta elegância do século passado alternados com maus modos de um vivente adolescente da geração y. Fala marcante e, quase sempre, sábia. Deparou-se com a vida adulta e, como eu, provou dos labirintos vitais que já nos deixam encruzilhados. Talvez não conheça o que o dinheiro que, por berço, pode o oferecer - ou apenas não queira. Insatisfeito. Intolerante. Incompreensível. Inesquecível. 

É possível que essa relação initerruptamente inconstante tenha feito estes dois corações apaixonados pela paixão, apaixonarem-se um pelo outro mas, por força de comprometimentos anteriormente fixados, nunca puderam tornar essa paixão em realidade. Talvez seja, justamente, por ser paixão e não amor. Ou amor demais. Porém, por ambos estarem saturados dessas histórias tão previsíveis, intensas, burras, enganatórias e clichês, não entregam-se à sentimentos tão intensos e tão irreais. Cicratizes de amores passados  com fins jamais compreendidos, aprofundaram  nestes jovens corações que desde sempre - e, possivelmente, para sempre - são tão carentes.

Ele não é astronauta. E não é você. Talvez nem mesmo exista. Mas o fiz cansar de tanto me ouvir chorar. Ele me enche de medo. Eu o encho do que lhe falta - e também do que já possui. Nos transbordamos de tanto nos completar e mal aguentamos a presença um do outro, da mesma forma que a distância nos sufoca. Mesmo assim, ele nunca vai embora. E eu também não.





My blood running cold
I stand before him

It's all I can do to assure him
When he comes to me
I drip for him tonight
Drowning in me we bathe under blue light.









domingo, 23 de outubro de 2011

Vou chorar a mesma dor






Eu, cada vez que vi você chegar,
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido, eu disse nunca mais.

Mas, novamente estúpido provei
Desse doce amargo quando eu sei
Cada volta sua o que me faz...

Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Vi o meu amor tratado assim
Mas, basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui

E sei que vou chorar a mesma dor
Agora eu tenho que saber
O que é viver sem você

Eu, toda vez que vi você voltar,
Eu pensei que fosse pra ficar 
E mais uma vez falei que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui

E sei que vou chorar a mesma dor
Se você me perguntar se ainda é seu
Todo o meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim.


sábado, 22 de outubro de 2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Os 5 Estágios de Kübler-Ross





O Modelo de Kübler-Ross propõe uma descrição de cinco estágios discretos pelo qual as pessoas passam ao lidar com a perda, o luto e a tragédia.

Eu sou louca por Adorável Psicose, a série engraçadíssima do canal Multishow, estrelado, escrito, pensado e finalizado pela incrível Natália Klein. Já aprendi muitas saídas e assuntos que me deram um super help em vários momentos - o que me faz amar a série ainda mais. Pois foi em um desses episódios que conheci os 5 Estágios de Kübler-Ross e que, magicamente, foi como descobrir a resposta pra todos os dramalhões dessa minha vida sagitariana. Os 5 Estágios de Kübler-Ross é como um roteiro lógico da vida, de modo que todos nós somos afetados sempre pelos mesmos cinco lamentáveis estágios, onde quer que nós estejamos, seja lá quem nós realmente somos.

Perceba na prática:

1. Negação
 "Isso não pode estar acontecendo."

 Quando algo ruim acontece, é difícil acreditar. Ou não se quer acreditar. Vai tudo muito bem, ou muito estável, ou muito ruim mas um "ruim confortável" e vai ser aí, meu caro amigo leitor, aí mesmo que tudo vai mudar e, claro, pra pior. Você fez tudo certo, dedicou-se (quase) inteiramente, foi honesto, caridoso, fez-se inesquecível (ou é só o que lhe disseram) e aí, quando aquele ruim está prestes a mudar, ele muda mesmo. E fica péssimo. É quase uma comédia americana imbecil e sem graça, totalmente previsível mas que você, mesmo assim, solta umas risadinhas no final. É inacreditável. Nadou por dias, meses, anos, séculos e sim, você morreu na praia. Sim nada, NÃO! "Nãos" começam a fazer parte de todos seus diálogos, "não acredito", "isso não é possível", "não é verdade", "não faz isso comigo", "não pode ser", "não não não e não!".


2. Raiva
"Por que eu? Não é justo."

Raiva. Ódio. Inquietação. "Com tanta gente fazendo o mal no mundo, por que isso tinha que acontecer justo comigo que estava quietinha aqui, vivendo sonhos em silêncio?" "Com tanta garota que esnoba garotos, por que justo o meu tinha que ter ido embora?" "Tudo que eu fiz, tudo que passamos juntos, não significou nada? Seu ingrato, imbecil, otário, filho da..."


3. Barganha
"Mas e se eu mudar a cor do cabelo e o estilo musical, você fica?"

Clichê: dá-se o jeitinho brasileiro. A gente pode negociar, cancelar a viagem dos meus sonhos pra comprar sua moto, compreender sua profissão duvidosa, aceitar que você suma por dias, fazê-lo gostar de comédia romântica em troca de televisão liberada no domingo à tarde pro futebol, desde que fiquemos juntos, ok? Ah, sem esquecer dos infinitos apelidinhos cafonas, pra amolecer qualquer coração inundado pela otarice de estar amando. Afinal de contas, quando se descobre que está no inferno, a única maneira de sair é negociando com o diabo.


4. Depressão
"Eu sou a pior pessoa do mundo, ninguém me ama, ninguém me quer."

"Ninguém me ama, ninguém me quer" é uma frase muito rica. Primeiro porque começa já na mais profunda das depressões psicológicas "ninguém". Quando você atinge o período da vida de se sentir ninguém, é como se todos os outros seres vivos da Terra vivessem em plena harmonia e, você, sozinho, abandonado e esquecido no vazio do seu quarto. Aí, quando você descobre que até existem outros "ninguém" iguaizinhos à você, eles TAMBÉM o abandonaram porque nem eles o quererm, nem eles o amam. Você continua sendo o mesmo ninguém de sempre.


5. Aceitação
"Tudo vai acabar bem."

E que opção nós temos? Tentou-se de tudo, chorar, gritar, pedir, implorar, negociar e não, caro amigo leitor, não deu certo. Por que? Ora, há mais mistérios entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã sabedoria. Talvez você só não seja bem afortunado, bem arrumado, bem bonito, bem interessante e ali, no virar da esquina, sempre haverá alguém melhor do que você. E do que ele(a) também.


Doubts






Dúvidas geram perguntas que geram ansiedade e encômodo. Isso sempre esteve comigo. E agora, mais do que nunca. Por que, afinal, você foi embora?




Mad Freud

















quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dia das Crianças



Seria fácil eu falar de coisas bonitas e encantadoras que supostamente rondam a infância, enchendo-a de felicidade... não só fácil como clichê. Então, vamos assim... "Quando eu era criança", talvez como a maioria delas, eu queria logo ser adulta, independente, sozinha, viajar o mundo e voltar pra uma casa só minha onde eu pudesse dançar qualquer música pop cafona bem alta em todos os cômodos da casa e comer a parte do meio de uma melancia inteira. Eu queria ter dinheiro, ser modelo, ser médica, ser executiva e vendedora de loja. Queria um namorado pra me ligar o dia inteiro. Comia todos os doces da casa escondido. Tive muitas cáries e nenhum medo de dentista e muito menos de andar na rua. Mas havia uma coisa que eu detestava mais do que tudo naquela universo: a escola. Chorei muito por culpa dessa maldita... mas deixa essa parte pra lá.

Quando eu era criança, eu queria fazer tudo que me fizesse sentir livre. E fazia. E sonhava. Hoje, que a vida real já me fez cair de bunda no chão várias e várias (e, tipo, várias) vezes, sinto um pouco de receio na hora do "vamos ver" mas não deixei o "bota a cara" de lado.

Essa foto aí de cima, eu tirei no avião indo pro Rio. Essa menina era mais uma dessa geração duracell - a qual eu conheço bem por ter um exímio representante da época em casa, como meu irmão - que não parou quieta nem por um minuto, nem mesmo quando passávamos por uma nuvem de chuva de granizo e sua mãe rezava com um terço na mão para que não morressemos ali, de forma tão... enfim, essa menina era daquelas criONÇAS detestáveis, com mil habilidades precoces, mais adultas que muito adulto. Mas quando ela parava e ficava quietinha assim, como na foto, mesmo que por segundos, ela me fazia lembrar de mim com essa idade o que, imediatamente me remetia àos sonhos infantis. Nosso destino era o mesmo. Nosso paraíso mental também. Ser criança, pra mim, é acreditar, sem medo, sem preconceitos, sem fim, sem pouso... mas sem poder comer uma melancia inteira sozinha.