segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Aniversariando



Hoje eu lembrei mais uma vez. Mas não foram dos momentos juntos. Pelo menos, não pessoalmente. Lembrei de sempre te dizer o quanto quis acordar do seu lado num domingo de manhã e imaginar que não teríamos hora para sair da cama. E, depois, ir tomar café na padaria e ler o jornal com você. Lembro do tanto que quis ouvir você me contar sobre o trabalho e falar detalhadamente de pessoas que eu não conheço, e nem vou conhecer, como se fossem meus velhos amigos. Quis tanto ver você me olhar entre um gole de café e outro, sem nada para dizer, e apenas sorrir antes de voltar a folhar o caderno de cultura. Desejei a sua mão no meu cabelo, dentro do carro, no caminho do nosso tão planejado apartamento. Sonhei em deitar no sofá e ver você cuidar das plantas, escolher a playlist no ipod e dobrar, daquele seu jeito metódico e perfeccionista, as roupas sempre esquecidas em cima da cama. E então, sem mais nem menos e para completar a cena cinematográfica, você desistiria da arrumação, me jogaria sobre a bagunça, me beijaria e me abraçaria como nunca fez antes com outra pessoa.

Quis tomar uma taça de vinho (vinho não, nescau, coca...) no fim do dia e deitar do seu lado na rede, olhando a lua e ouvindo você me contar histórias do passado. Quis muito escutar você falar do futuro e sonhar com minha imagem nele, já sabendo que eu provavelmente não estaria lá. (E olhe bem como sempre tive razão). Desejei muito que você ignorasse a improbabilidade da nossa jornada e falasse da casa que teríamos no campo. E você, como sempre soube me agradar, sempre a descrevou em detalhes, falando do jardim que construiríamos, e dos cachorros que compraríamos. (Dos que tivemos e não soubemos educar). Sonhei tantas vezes com tua mão nas minhas costas e beijos teus no rosto. 

Mas ainda quero que você nunca perca de vista a música da sua existência, e que me prometa ter entendido que a felicidade não é um destino, mas a viagem. E que, por isso, teremos sido felizes pelos vários domingos na cama e pelos sonhos que compartilhamos enquanto olhávamos a lua - ou as telas de nossos computadores. Ainda quero que  você acredite que não me deve nada simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívida, nem mágoa, nem arrependimento. Então, que não se arrependa, da gente, do que fomos, de tudo o que vivemos. Tudo o que quero é que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. Sempre. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida. Que você nunca mais deixe de pensar em mim quando estiver em Porto Alegre, Ingleses, Barra, Torres, escutar Los Hermanos ou ler meu blog. E, por fim, que você continue a tocar violão na sala. Para sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando."




*este texto contém partes de um texto original de Milly Lacombe





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