terça-feira, 31 de janeiro de 2012



“Passou o dia pensativa juntando coragem na saliva até encorpar a voz.
Aproveitou o ápice da sua agonia e, num impulso, disse tudo numa sensação só:
“A partir de hoje, não sou mais tua mulher, decidi gostar de outro”.
No início ele riu da ousadia, mas o silêncio que ela fez em seguida preencheu
de sinceridade aquela novidade.
“Você ficou maluca, de onde tirou isso?”
“É que você nunca gostou de mim no grosso mesmo do sentimento.. sempre foi essa coisinha aguada e mal-cuidada, água parada esperando doenças..”
“Mas ninguém decide que vai gostar de outro de repente e, simplesmente, começa a gostar!”
“Ah, mas eu decidi.. Ele vai realizar um sonho que tenho comigo desde menina: ele disse que vai gostar de mim bem do jeitinho que eu gosto de você. A diferença, é que eu sei merecer essas coisas…”


— Marla de Queiroz


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Antes tarde do que nunca








Summer Love




Ela sabia que não duraria. Sabia que não era mais um falso "para sempre". Era apenas um "até o final desta semana". Sabia, mas entregou-se e mergulhada naquela nuvem verde que bloqueava a visão do quarto quente, perdeu a razão em manter-se serena. Ultrapassou os limites das próprias convicções em prol do inesquecível. Ignorou a impossibilidade do caso evoluir e seguiu em frente como quem corre sem parar ao ver o oásis no deserto. Miragem. Nada mais que isso. Uma clareira luminosa que encontrou na escuridão, uma estrela do oriente em meio ao concreto do Sul. Será magia, miragem ou milagre? Era tudo. Junto. Intenso e imenso. Belo e puro. E rápido. Rápido o suficiente para tornar-se inesquecível. Sabe grandes celebridades que morrem cedo? Os bons não duram para sempre. Nem muito. Foi como havia de ser, foi como havia sido desejado, planejado, sonhado. Um delírio. Sob o sol do fim da tarde.



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Capadócia


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Jorge sentou praça, na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também
Sou da sua companhia
Eu estou vestida com as roupas
E as armas de jorge
Para que meus inimigos tenham pés 
E não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos
E não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos
E não me vejam
E nem mesmo um pensamento
Eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo
O meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
Sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes arrebentem
Sem o meu corpo amarrar
Porque eu estou vestida com as roupas
E as armas de Jorge.


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domingo, 22 de janeiro de 2012

Floresceu




Nasceu. Surgiu. Desabrochou. Apareceu. Bem que ouvi que era como um rio, que deita a relva suavemente. Foi como uma lâmina, deixando minha alma sangrar. Foi fome, uma necessidade de dor sem fim. Hoje é flor que eu mesma plantei. O coração com medo de quebrar, que nunca aprendeu a dançar, foi sonho com medo de acordar. O primeiro que não pode ser pego, tudo que não pode ser mostrado. E minha alma com medo de afundar, pareceu nunca aprende a viver. Foi quando a noite aconteceu, vindo sozinha e com pés cansados de uma estrada muito longa, pensei que tudo era apenas para os sortudos e os fortes. Mas foi então que, no inverno passado, embaixo da neve triste, dormiu a semente que o sol ama e no verão ela se transformou em rosa.

Feliz 2012. Doce.