domingo, 2 de outubro de 2011

Hipotéticamente


"Hipoteticamente, você se casaria comigo?", ele me perguntou, enquanto assistíamos tevê na sala.
"Como é que é a história?", rebati em tom de deboche.
"Você se casaria comigo, hipoteticamente?", repetiu.
"Se eu me casaria com você?"
"Hipoteticamente."
Eu ri, enquanto meu cérebro fazia um milhão de sinapses involuntárias.
"Não sei", respondi. "Hipoteticamente, o que você teria pra me oferecer?"
"Eu sou mais alto que você, pra começar."
"Ok, é um bom começo. Que mais?"
"Eu vou ter uma carreira promissora. Eventualmente."
"Aham."
"Eu posso ter muito dinheiro. Um dia."
"Bom, bom. Eu poderia me casar por dinheiro."
"Né?"
"As pessoas subestimam a necessidade de se ter muito dinheiro."
"Malditas pessoas."
"Quem disse que não traz felicidade?"
"Com certeza alguém que não tem muito dinheiro."
"Recalcados. Se o dinheiro não traz felicidade, ele manda um voucher."
"Um voucher?"
"É. Se você tem um voucher pra felicidade, você só não é feliz se não quer."
"Voucher pra felicidade não é letra de música sertaneja?"
"Não. Aí seria o primeiro avião. E você não pode pegar o primeiro avião sem ter o voucher."
"Ah, o voucher."
"O voucher."
E continuamos a assistir tevê. Estava passando American Dad e o alienígena da família ia ver um show da Barbra Streisand interpretando Celine Dion.


+

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário