terça-feira, 14 de agosto de 2012

Trezentos e Sessenta e Seis

Não me importa o que digam. Muito menos o que pensem. Sinto vontade e necessidade de contar o que sinto e como nunca houve - e nem haverá - nada que impossibilitasse de expressar-me, assim farei.

Aconteceu como já sabíamos que aconteceria. Nós e todos aqueles que nos cercavam, fossem eles próximos ou distantes. Aconteceu na pior data, do pior mês, no pior ano que já presenciei nesta vida. Treze. É provável que não saiba, mas em mim faz-se marcada feito tatuagem. Um domingo mórbido, afogado no fundo de um poço escuro e sujo, que aumentava sem parar devido ao grande número de lágrimas que jorravam dos meus olhos. Não poderia ser verdade. Mas era. Não poderia ser definitivo. Mas foi. E desde então, tu te mantém intacto sobre o maior pódio da minha vida, a referência amorosa mais forte e presente de todas. É quase inacreditável. E inaceitável. Fomos vítimas de nós mesmos. Da nossa imaturidade, infantilidade, incapacidade de relacionar-se de forma coerente. (Mas e existe coerência no amor?). Era mais que amor. Era paixão, obsessão. Era tanto naquele nada. Era vazio e frio. Era um barco sem controle numa tempestade. Era vermelho feito sangue que escorria, doído, do meu coração. Era nada. A vida só se fazia em mim quando me tocavas. Juntos, éramos a materialização de duas almas carentes de vida. Juntos, éramos só nós. E eu. E tu. Mas era muito. Overdose. Era mais do que chegada a hora de partir. Nós sabíamos disso. Ainda sabemos. Tu foste o mais corajoso e mais forte. Tomaste o caminho oposto ao meu, e eu, cega, quase sem vida, corri pra tentar te alcançar. Quando cansava e virava um dos pés para o outro lado, tu vinha pra me fazer relembrar da tua existência - como se fosse possível algum dia da minha esquecer. Por que nos envolvemos tanto? Por que sentimos o que foi sentido? Haviam tantas pedras no caminho, tantas dificuldades... Por que não pensamos? Como tudo um dia pode parecer ser tão fácil? Permaneci buscando tua alma perdida da minha, o pedaço de mim arrancado como se alguém tivesse me levado um rim. Tu era meu. Meu melhor amigo, meu amante, meu namorado, meu confidente, meu sonho, minha realidade, meu choro, meu suor, minha febre, meu sorriso, minha vontade de acordar. Mas o amor é privilégio dos adultos, daqueles que sabem como agir sem estragar tudo, sem perder, sem machucar. Nós não soubemos preservá-lo - mesmo que eu ainda acredite que ele pulse (e forte) dentro de nós.

Demorei pra arrumar aquela gaveta. Passei meses sem encostar naquela câmera. Não encontrava coragem pra recolher tuas coisas espalhadas entre todas as minhas. Abria os olhos de manhã já chorando. Não comia. A declaração escrita atrás da porta do meu quarto continua lá. Intacta. Assim como tantas outras coisas aqui dentro. E talvez, mesmo com tantos tropeços, tantas voltas rápidas, tantas promessas falhas, tantos "não volta" "não tenta" "não perdoa" "não atende", eu voltei, tentei, atendi, perdoei. Errei tanto quanto tu. E herdei esse sentimento de ti. Não guardar mágoas é uma das coisas mais incríveis que eu já aprendi até hoje e foi exatamente tu quem me ensinou - como se já pudesse prever o futuro.

Das muitas perguntas que eu sempre fiz, nunca obtive nenhum resposta. Algumas coisas apenas são e nessa afirmativa eu me sustento. Mesmo que o tempo nos cubra de rugas, eu ainda estarei aqui, assim como aí eu sei que você vai estar. Veja você, nos amamos até o fim raiar. Um ano depois, o que ainda estará por vir? Qualquer coisa, menos o calar. Eu espero que esteja feliz nessa nova realidade, que as pessoas ao teu redor possam cuidar de ti como eu não mais posso e que possam te fazer sorrir o dobro de vezes que eu te fiz chorar. A tua felicidade, hoje, é o preço alto que eu pago por ter te visto partir. E, assim, quem sabe, um dia, há de realizarmos as sacolas do Zaffari sobre a mesa, duas bicicletas escoradas na parede, o João e a Maria, nossa viagem de carro pelos EUA e tantos outros planos ainda não realizados. Até lá, não se esqueça de mim, nem da nossa história e continue a espalha-la como se fosse a maior e mais linda história de amor da tua vida. E que parte de ti acredite que ela é mesmo. E que continues a tocar violão na sala, como sempre, mesmo quando eu não estiver mais olhando.


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