quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O que fazer quando definitivamente não se sabe o que fazer




Vou senti falta dessa mesa que não usei o bastante. Vou sentir falta dessas janelas largas que não usufruí o bastante. Vou sentir saudade dessa vista que não olhei cada centímetro com atenção o bastante. Vou sentir falta de coisas que nem me dou conta agora e que, daqui a alguns dias, não terão sido o bastante. As tele-entregas poderão me acompanhar, mas o viaduto não. O movimento continua por perto, mas a avenida não. As padarias existirão, mas a favorita não. Muitas coisas mudam e eu cada vez mais tento aceitar a ideia de que tudo, tudo, completamente tudo muda. Ou vai mudar um dia. Eu não sou a mesma do mês passado e - espero - não serei a mesma mês que vem. As pessoas crescem - ou deveria crescer. As oportunidades surgem. E se vão. Os dias vêm, mas acabam. O Sol bate forte, mas eu preciso terminar minha pauta. As flores cor-de-rosa-digna-de-fotografia caem enquanto eu passo pelo parque que sempre quis entrar e sentar, mas eu preciso voltar ao trabalho. Meu irmão cresce e eu não presencio. O amor reaparece e eu não me agarro. O ódio vem e eu não o mando embora. Sinto forte movimentos pela frente, sinto o fim de um ano completamente transitório chegar, sinto a novidade, o desconhecido, o pânico e o fervor do meu sangue borbulhar dentro de mim. Caminho e penso em sete temas diferentes pra escrever, mas sento e não consigo redigir nem uma frase. Ligo e penso em não ligar, mas só me arrependo depois de dar tchau. Gasto tentando encontrar meu dever de não consumir, mas me faço vítima e doadora da minha própria felicidade de plástico. Encontro novas relações miojo, mas só até o dia seguinte. Tenho super ideias, mas minha boca não consegue abrir nem para bocejar no brainstorm. Quero, mas sei que não posso. Falo sem pensar. Penso sem falar. Sinto sem existir. Vejo onde não há. Como seria possível ter um céu azul, se estou no escuro? Seria possível ainda ser você, se nem eu mesma sou mais eu mesma? Desconheço o território a minha frente, mesmo sendo as mesmas calçadas-com-pedras-soltas de todos os dias. Testo novos sabores, mas me desperta a gastrite. Vou além do que posso e me surpreendo. Sou capaz de ouvir novamente. Sou capaz de ser gentil novamente. Sou capaz de estar aberta a novas coisas novamente. Mas continuo insatisfeita com o background do twitter, a capa do facebook, os namorados apaixonados sempre se beijando na minha frente, as velhinhas demoradas na fila, a fila do banco, a monitora da minha turma, os porteiros do meu prédio, as pedras soltas na rua, o frio, a solidão, a azia, a gastrite, a comida, a corrida, as cores, os amores. Percebo que foi e continua sendo mais fácil reclamar, mesmo sendo verdadeiramente grata às conquistas que eu mesma ganhei, que eu mesma desbravei, que eu mesma venci. Bato forte no peito o orgulho de ser quem eu sou, do jeito que sou, do tamanho que sou, na verdade que sou, pelo fato de ser a cada dia mais forte, pelo fato de ter chegado ao ponto de que as únicas pessoas que quero surpreender são meus pais e meu chefe. Eu só ainda não posso responder do que é feita a vida, mas posso dizer o que a vida fez de mim.


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