segunda-feira, 28 de maio de 2012

Imersão





"Tudo despenca nessa vida. A família é a única coisa que se mantém", diz qualquer velha senhora italiana. Eu precisava regressar. Precisava dormir em um quarto em que pudesse ouvir até minha própria respiração. Nessa cama que mais parece um oceano. Nestes computadores tatuados com minhas histórias. Eu precisava acordar de manhã e ouvir meu irmão perguntar se eu queria brincar de Chaves. Tinha necessidade de sentir o aroma incrível das comidas da minha mãe. Precisava sentar no sofá e saber que estaria completamente segura, com meus pais e meu irmão sentados do meu lado. Não importa aonde eu vá. Não importa o que eu faça. Não importam os erros repetitivos. Não importa o cansaço, a falta de dinheiro ou vontade, a conta no vermelho, a solidão. Nada mais importa. Algo se move muito fortemente dentro de mim quando eu volto pra minha casa. Sim, porque eu não acredito que outros lares poderão algum dia ter o privilégio de serem chamados de "minha casa". Minha casa fica aqui, neste bairro onde eu passei minha infância, onde eu conheço cada esquina, cada esconderijo das casas quase abertas. Minha casa é na frente do parquinho onde eu vi girinos pela primeira vez, onde eu passei tantos anos correndo de bicicleta pra não ouvir o que os meninos do futebol diziam. Minha casa tem um pátio cravejado de infância, de amigos, de amor, de felicidade, de tantos esconde-esconde, de cheiro de balão, de sorrisos. Minha casa ainda guardam caixas que não foram abertas, livros que não foram lidos, rascunhos que não foram esquecidos. Atrás da porta do meu quarto, ainda há dizeres comemorativos de 2 anos de namoro. Um namoro que nunca mais existiu. Nesta casa, escorre vida por entre as janelas, histórias que eu ainda não ouvi e outras, tantas, que imploro pra repetir. Tem como teto o céu mais azul de toda a minha vida. Lá fora, corre o vento gelado de manhãs inesquecíveis de sábado. Um portão branco que abre sorrisos e fecha abraços. Um cachorro de toda uma vida. Nesta casa tem meu eu. Um eu que não encontro em lugar algum. Tão perdido que se completa. É aqui que eu sou quem eu sempre fui: eu mesma; e somente com essas pessoas eternas é que eu posso ser assim: feliz.


2 comentários:

  1. Quanta destreza com as palavras!
    Esse sentimento de "minha casa" é o que mais procuro na hora das brigas, das desavenças, das responsabilidades, da implicância dos meus irmãos...
    Adorei esse texto, menina Manu.
    Beijos

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    1. Sabrina, que elogio lindo! Encheu meu dia de alegria! Muito obrigada <3

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