segunda-feira, 7 de maio de 2012

Aprendendo a Viver

Este é o título do meu primeiro livro da sempre minha (e só minha) Clarice Lispector. (Hoje) clichê e contraditória, também era minha imensurável adoração por suas palavras e pela decepção de ser uma fã sem um singelo exemplar de um pedacinho da sua imensidão, em casa. Dei-me de presente, mandando fazer um pacote bem bonito e colorido, na livraria mais linda da cidade. Mas como ele veio parar aqui, nas minhas mãos e dentro do meu coração, eu quase nem sei explicar.

Estava eu, perdida entre livros e cds e dvds e moleskines e obras de arte, quando me dou conta de que deveria  tentar encontrar algo com algum motivo maior. Tenho em mim um jeito estranho de despertar interesse por algum assunto muito específico. Ouço alguém falar e aquilo vibra. Imediatamente, como mágica, vejo, ouço, sinto por todos os lugares por onde vago, algo que me faça lembrar do que, agora, pulsa forte em mim, inquietando minha curiosidade. Assim foi com Frida Kahlo. Assim tem sido com Hilda Hilst. 

Procurei pelo atendente mais próximo e pedi para que me indicasse em qual prateleira encontravam-se suas obras. Imadiatamente, ele me deu 3 livros de poesia, correndo (mesmo!) até a outra ponta da livraria, empilhou mais cinco livros nas minhas mãos. "Divirta-se. Caso não queira algum, é só deixar em cima desse balcão. Boa leitura." Fiquei até ansiosa. De uma vez por todas, eu poderia descobrir quais os motivos que traçaram de forma tão forte meu caminho e o dessa velha desbocada senhora. Rápida, tentei ler na mais breve velocidade as orelhas dos livros, na busca por algo que me gritasse: "ESTE LIVRO É PARA VOCÊ." Caiu como uma sinaleira piscante em minhas mãos o "O caderno rosa de Lori Lamb" que logo na  primeira página, antes do prefácio, continha dizeres de algum filósofo famoso, algo do tipo "Apenas os apaixonados olham para as estrelas e realmente conseguem vê-las", com uma frase dela logo abaixo "E os que olham, se fodem." Genial. Era isso que eu queria. Era disso que eu precisava. Uma vida mais gelada, mais ácida, algo que me tornasse dura feito pedra. Foi uma pena que a (não sei bem dizer qual sentimento) de ler, logo nos primeiros parágrafos, a descrição perfeita do ato de abuso sexual à uma criança de oito anos, contada irônicamente pela mesma, me fez sentir tão mal, tão frágil que fechei o livro e decidi deixar Hilda para tempos mais fortes.

Olhei para a grande prateleira na minha frente, nominada de "Literatura Brasileira". Sabia que havia algo ali feito pra mim. Na mosca! Meus olhos foram caindo até sua penúltima linha cheia de livros cheirosos e ali, bem ali, encontravam-se todos os livros de Clarisse. Era chegada a hora. Leio muito Clarisse, mas já li mais.  E, ao mesmo tempo, tenho até vergonha de dizer isso, porque o que li mesmo foram apenas esses textos cortados e recortados que se espalham pela web. Decidi que era a hora da estrela entrar em mim vida, para ficar. E se enraizar. Vi, entre muitos, o livro "Aprendendo a Viver" e tive certeza absoluta de que este seria o primeiro livro da minha nova vida. Tudo o que eu preciso saber. Escrito pela mulher que me fez mulher, que descreve tudo que se passa em mim, com palavras próprias, que me encontra, me perdendo, que me faz sentir viva, mesmo pensando que vida é grande demais para se viver. Ditado por regras completamente desregradas.

Eis a melhor parte até agora:

"Muitas coisas que me aconteceram tão piores que esta, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora; o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso."



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