sábado, 30 de junho de 2012
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Começa com uma pequena ardência no nariz, que vai se espalhando pelo rosto, contagiando as bochechas em direção aos olhos. Quando isso ocorre, é muito difícil reverter o processo, pois todos os músculos faciais estão envolvidos no esquema.
A tentativa de lutar contra essa conspiração é válida e até digna, mas, a essa altura, sinto-lhe informar que será em vão. Porque seu corpo já está decidido, a despeito do que você havia planejado.
É uma pena, meu bem. Mas você vai chorar.
terça-feira, 26 de junho de 2012
D-E-S-I-S-T-O
Antoine, Astronauta, Bobby Alien, Chuck, John, Pierrot, Bass, Denis, Maricá, Você. Vocês todos, caras da minha vida, vocês todos os quais eu (d)escrevi aqui, os quais eu sonhei, chorei, gritei, deixei, amei, vocês todos estão oficialmente demitidos da minha vida. Gastei tempo demais com vocês. Me amaram, me fizeram sentir as coisas mais lindas (e mais terríveis) que eu já senti. Intensos, densos, lindos, charmosos e o melhor de tudo: únicos. Cabe a mim guardar sim, cada segundo que entre nós foi compartilhado, porém, a fila anda, o mundo gira, as pessoas mudam. E você mudaram, assim como eu. Sou grata e isso basta. Adeus.
Ainda é cedo, amorMal começaste a conhecer a vidaJá anuncias a hora de partidaSem saber mesmo o rumo que irás tomarPreste atenção, queridaEmbora eu saiba que estás resolvidaEm cada esquina cai um pouco a tua vidaEm pouco tempo não serás mais o que ésOuça-me bem, amorPreste atenção, o mundo é um moinhoVai triturar teus sonhos, tão mesquinho.Vai reduzir as ilusões a póPreste atenção, queridaDe cada amor tu herdarás só ocinismoQuando notares estás à beira do abismoAbismo que cavaste com os teus pés
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Vida com cara de intervalo
Que saída é essa? – contornei consciente da cilada que me esperava.
Tem alguma coisa errada – pensei. A placa dizia para cruzar a porta do umbral, não para adentrá-la.
Abri o mapa.
À minha frente, em um único plano, as estradas se retorciam como mandalas tecnicolormente cruéis de ilusões de ótica.
Pelas trombas nirvânicas de Ganesha – meditei. Dai-me visão, possibilidades, alguma inteligência e, sobretudo, uma dose extravagante de paciência – afastei supondo que teria sido vítima de algum ritual macabro de magia negra.
Balancei a cabeça com aquele gesto fúnebre de ciência médica que aprendi na infância quando diagnosticava o estado de saúde precário de minhas bonecas. Olhei em volta. Meus olhos varreram o chão como se esperassem encontrar alguma resposta na poeira que a brisa espalhava e nada. Era como estar dentro de um oásis infernal que aparecia de desaparecia quando bem entendia. Fiquei observando minhas pegadas sumirem por aqueles labirintos vivos, sentindo que meu corpo se distanciava da alma a cada passo que dava.
Abri o manual de instrução de Franz Kafka na esperança de que ele tivesse alguma sugestão para amenizar o horror que me esperava. A primeira lição: "O sentido da vida é que ela termina." Franzi o cenho com um semblante pessimista e repeti aquela frase até ficar convencida.
Som a som, a voz autoral extravasava para o fundo sem saber do seu próprio mergulho no mar turvo da imaginação. As vozes eram visões proféticas da consciência a bater o cajado sobre as águas escuras da emoção para que elas se levantassem e, quem sabe, impedir que os exércitos internos e externos se precipitassem para além de sua dimensão já que não era possível impedir que eles se enfrentassem. Ou não. A voz era o mapa da mente a exigir de seu descobridor a latência da busca, ao triunfo de finalmente encontrar o que se procura. Sorri à saúde daquele desapegado escritor tcheco, pensando com certa alegria que, inversamente, o sentido da morte é que ela ressuscita.
Coloquei o lápis em riste e cocei a ponta do nariz. Era preciso refazer a rota. E onde depositar a fé do encontro senão no caminho de volta? Sempre acreditei que devesse esperar o momento certo para dizer a todos aqueles que cruzaram o meu caminho o quanto eles são importantes. Considerando que minhas histórias sempre começaram e terminaram em um cemitério, nada mais apropriado do que este momento, de morte. Momento em que encerro este luto simbólico pelo enterro dos erros, das culpas, dos medos, dos arrependimentos, para que, diante de nós, serenamente, a alma-palavra possa ganhar forma e estender esta ponte contínua de afetos presentes. Elas nada pedem, exceto que eu atravesse. Meu coração bate como um par de castanholas por me postar diante de vocês, assim, tão ritmicamente. Foi um convite irrecusável à metamorfose, à transformação profunda, à coragem de jogar fora um passado velho, para que um novo presente entre.
Quando consegui me convencer de que não poderia mais parar de escrever, voltei para a escrivaninha. As velhas canetas que abandonei sobre a bancada da mesa pareciam sorrir, como numa convenção coletiva de cumplicidade maldita.
Mesmo tendo contraído a doença das palavras, não tive dúvidas de que viver a vida ainda é melhor que imaginá-la. Mas uma coisa é certa. Não se deve deixar histórias pela metade, sobretudo aquelas que valem a pena ser contadas. O palco da existência é vasto demais para deixarmos de acreditar que amanhã não haja outro cenário, outros personagens, outros enredos, outros aplausos. Em todo caso, para toda boa trama é necessário um intervalo.
Fui andando até o quarto e sentei-me em cima de um tapete acolchoado. O ar cheirava a sândalo. A pressão sobre os pulmões tinha se evaporado. Ajeitei as costas numa posição de monja tibetana, cruzei as pernas, respirei, expirei e inspirei:
LAAAAAAMMM
VAAAAAAMMM
RAAAAAAMMM
YAAAAAAMMM
HAAAAAAMMM
OOOOOOOMMM
E-E-E-EEEEEEMMM – remixei.
É como um ritual de purificação. Não se chega ao cosmo sem passar pelo caos. Tenho consciência Krishna. A todo o tempo morro e renasço. Em um espírito mais sábio? Não. Em um espírito mais sóbrio, eu acho.
Lídia Martins
sábado, 23 de junho de 2012
“Quando você começa a tomar diversas atitudes sobre o mesmo assunto e as coisas aparecem não mudar, é ai que você se toca que no fundo isso não depende de você”
— | (via questaodeangulo) |
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Se você quiser, eu vou te dar um amor desses de cinema
Não vai te faltar carinho, plano ou assunto ao longo do dia. Se você quiser, eu largo tudo, vou pro mundo com você, meu bem! Nessa nossa estrada só terá belas praias e cachoeiras. Aonde o vento é brisa, onde não haja quem possa com a nossa felicidade. Vamos brindar à vida, meu bem! Aonde o vento é brisa e o céu claro de estrelas. O que a gente precisa é tomar um banho de chuva...
Cher Antoine
Cher Antoine,
escrevo-te por aqui pois não posso escrever-te diretamente e muito menos falar-te pessoalmente as coisas que irei declarar. E acredito que esta mesma seria a palavra correta "declarar", pois já faz um tempo que estes estranhos sentimentos passam dentro de mim. É difícil acreditar, eu sei, e mais difícil ainda tentar entender como tudo foi acontecer assim, mas, a essas alturas das nossas histórias, acredito que pouco importam as razões pelas quais nossos caminhos foram magicamente cruzados, como se o destino tivesse intervido, sem dó, nem piedade. Porém, não reclamo. Muito pelo contrário, agradeço imensamente que tenha entrado em minha vida dessa forma, tão rápida, tão fulminante, tão bonita. Pena que, talvez, você não veja dessa forma. Hoje já eu não consigo esconder essas vontades gritantes aqui de dentro, por mais que tenta. Hoje eu já não consigo só ser isso-seja-lá-o-que-for que sou pra você. Quero ser mais, muito mais. Te colocar na minha vida como parte anexa dela, múltipla de felicidade e prazer, filha gerada dessa rotina tão transitória e tão contrária a tudo que já vimos/sentimos por aí. Antoine, por que não responde claramente às minhas perguntas? Por que não diz-me diretamente o que sentes, o que queres, o que tanto procuras? Seria eu capaz de saciar essa sede maior que a minha? Bem, talvez acreditar na minha capacidade seja um bom começo. Para de calcular, de medir, de pesar. E então, deixa eu te mostrar de que o improvável salta aos olhos mais rapidamente do que podes imaginar. Pode ser jogar-se ao abismo, correr no escuro, gritar em uma sala fechada. Mas, me diz: isso tem algum valor? Vem pulsar teu coração ao lado do meu. Vê se entende que "Antoine" é, sim, você.
terça-feira, 12 de junho de 2012
E pro dia dos (n)ab(m)ob(r)ados...
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Vazio
“Passei muito tempo tentando “suprir meus vazios” até descobrir que o que apertava o meu peito era a quantidade de entulhos emocionais que eu carregava. Eu precisava era do vazio para me sentir internamente arejada e com bastante espaço para crescer. A angústia não é um vazio, é uma corrente que se arrasta. O vazio é uma possibilidade, uma lacuna a ser preenchida, um espaço para uma decoração nova. Precisamos de páginas em branco para que nasçam poemas, de recipientes disponíveis, de um coração espaçoso, de uma alma livre, de uma mente aberta. O vazio só existe para os desapegados, para os que suportam e celebram o silêncio que possibilita-nos ouvir os sussurros da intuição e não os gritos infantis dos desejos imediatos. O vazio é uma esperança maciça. Ele não é apenas a falta que nos move e motiva, mas a lembrança mais genuína de que somos seres inacabados e que precisamos nos construir diariamente, incansável e eternamente. O vazio não é um abandono de si, é um reconhecimento do eu, um convite para o Outro, algo que deve ser preenchido temporariamente, dentro do mesmo movimento humano de acordar sempre um desconhecido. O vazio é uma curiosidade que ainda não foi desvendada. É ter braços livres para o abraço que acabará daqui a pouco, mas que ecoará constantemente na lembrança mais bonita. Porque no toque intenso, o afeto estava leve.”
— Marla de Queiroz
Faz tanto tempo
Faz tanto tempo que eu quero parar aqui pra escrever tudo que eu sinto. Faz tanto tempo que eu quero te dizer tudo que eu sempre quis ouvir. Faz tanto tempo que eu quero que as coisas mudem. Faz tanto tempo que que eu sofro nessa solidão consciente. Faz tanto tempo que eu perdi meu rumo, não encontro meu caminho, esqueci do meu norte. Eu não aguento mais. Minhas olheiras profundas e meus olhos cada vez mais ardentes, não aguentam mais. Minha cabeça transbordando, meu coração com feridas abertas, meu estômago faminto já não aguentam mais. E então a busca diária pelo novo e proibido se torna só mais uma cena da rotina. Rebeldia pra que? Pra quem? Não há nada mais a ser provado, comprovado, atestado, taxado. Não há quem nos conheça e não saiba de, ao menos, algum capítulo desse drama sem fim. E sim, faz muito tempo que eu tento te esquecer. Pela linha do amor distante, do ódio, do esquecimento forjado, por novas relações, por novos costumes. Consome minha vida inteira, meu tempo, meu dinheiro, minha saúde. Esses dias eu parei pra pensar e constatei: perto de ti, sou doente. Fico doente, me torno alguém praticamente incurável. Perto de ti, eu sofria de frio, de diálogoa vazios, de ácido corrosivo no meu estômago. Passava mal com a ansiedade, explodia em raiva por conta da incerteza dos fatos. Da vida, talvez. Hoje eu já não sei o quanto isso valeu, não sei nem ao menos se valeu, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: mesmo que hoje os sentimentos distorcidos pela imprudência dos atos tenham deteriorado, eu te amei, sim. Ao contrário do que tive que ouvir ao telefone, com essa voz de quem tem ainda erronea certeza de que eu voltarei, eu conheci o amor. Entendi do que ele era capaz. Aprendi. Vivi, até a última das mais expridas gotas. Te amei numa intensidade - e densidade - que me faz desacreditar que algum dia se repetirá. Mas é isso, bato no meu próprio peito com orgulho do que fiz, do que falei, do que senti. E não me arrependo de nada. Nem da tua partida nunca finalizada. Ao contrário, eu nunca teria aprendido o certo e o errado, o amor e a obsessão, o ódio e a raiva. Fiz tudo que quis fazer. Disse tudo que quis dizer. Não dormi uma única noite sequer, sem ter agido de acordo com meu gritante coração. Levei os piores tapas no meu rosto, tropecei e caí dos meus maiores tombos, mas me orgulho de todos eles. Errei, me feri mais e mais, não escutei ninguém a não ser a mim mesma. E se me perguntarem por que fui tão longe, a única resposta será essa: por amor. Aos que entenderem, meu carinho e respeito. Aos que condenarem, meus votos de que nunca tenham necessidade de tais dores. Foi o maior espetáculo da Terra, pra todos nós. Pra mim, pra ti, pros nossos amigos, nossas famílias, nossas simpatias. Aplausos por 12 minutos. De pé! Somos os melhores personagens já vistos pela humanidade independente. Somos maiores que esta história, somente porque a escrevemos. Este é provavelmente o último texto que escrevo em teu nome. Não mando em email fechado porque sei que não leria. Escrevo aqui, onde nunca verá, o meu adeus definitivo. Que continuemos a espalhar essa história de amor à distância, como exemplo de coragem. Faz tanto tempo que eu precisava dizer isso, mas a pouco vi que estava mais do que passado da hora. Hoje, eu sim vou embora. Não nos cabemos mais. Não nos pertencemos mais. Não nos entendemos mais. É o fim. Chega. Não me venha daqui 42 dias arrependido, jurando amor e saudade. Suma. Desapareça. Vá viver essa coisa qualquer que não é capaz nem de nomear, que eu, enfim, vou voltar a viver. Faz tanto tempo que eu queria falar que eu deixei essa história morrer.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
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