quinta-feira, 15 de março de 2012


E essa saudade que eu sinto de você é só uma sensação desanimada, uma coisa inanimada, um jeito meio cruel de ficar no passado olhando as páginas amarelecidas do diário da viagem perdida…E ainda, aquela resistência em olhar as fotos, porque havia uma alegria congelada nelas, e nós nunca compramos um porta-retrato… essa saudade que eu sinto às vezes é vazia, não tem você dentro dela, é uma fantasia, uma vontade inútil de esquecer que fui tão feliz um dia. Essa saudade é alguma emoção mal-criada, tudo que eu não queria reviver neste dia…Na noite sem sonho, vadia.

- Marla de Queiroz


terça-feira, 13 de março de 2012

I heart Me







Eis que sob o Sol de um fim de domingo, embaixo da árvore mais rosada do parque, passa por mim uma menina que mal sabe o quanto me fez pensar. Junto com um cachorrinho, desses típicos de madame, ela, no auge dos seus (no máximo) 16 anos, vestia uma camiseta que provavelmente foi escolhida sem muito olhar, dentre tantas que deve guardar, com os dizeres "i (heart) me". De relance, pensei "lá vem a filhinha do papai, com o cachorrinho da mamãe, tão mimada e egocêntrica a ponto de vestir essa camiseta ridiculamente banal e desfilar com ela por aí". Parei. Analisei-me. Lembrei-me "preciso parar de julgar tão mal as pessoas". Olhei novamente para a menina que, com fones de ouvido e óculos escuros, mal olhava ao seu redor. Então, refleti "eu me amo. Eu me amo. Eu me amo. Eu me amo? Eu? Amo a mim mesma?". Pronto, já sabia sobre o que seria o primeiro relato (de muitos, espero) da vida de alguém que vem desbravar caminhos para começar a própria vida.

Amar-se pode soar feito dos egocêntricos, mas, na verdade, esta é uma daquelas verdades vitais a qual todos deveríamos prestar mais atenção. Na perda de algo que nos trazia conforto e segurança, no distanciamento de alguém que tanto foi e, agora, se foi de vez, acabamos sempre sozinhos. Por mais que saibamos que temos amigos por perto (ou, ao menos, esperamos ter) e família, estamos sempre sozinhos. O ser humanos inventa e reinventa infinitas formas que mascar essa verdade, esse fato que perturba tanto outros seres da nossa espécie. Por isso, corremos atrás de alguém que possa lembrar o quanto somos especiais, inteligentes, bonitos, importantes e esse discurso alheio traz, de certa forma, a segurança que tanto procuramos. Falsa. Uma manipulação bem feita pela nossa mente em conjunto com um outro desesperado qualquer que espera a mesma coisa de você. Estamos sozinhos. Ao descobrir isso, ultrapassar a fase de ódio e indignação, inicia-se a aceitação. Libertadora, descobrimos, ao poucos (e, às vezes, beeeem aos poucos), que podemos preencher espaços que ficaram vazios dentro de nós, que podemos ser nossa melhor companhia, que nós mesmos podemos respeitar nossa dor, nossos dias ruins, nossa bipolaridade perante a vida, sem cobranças, sem compromisso em manter sorrisos amarelos. Descobrir que é possível sim amar a si e ser feliz, mesmo que por partes, mesmo que desacreditando, abre portas e janelas fechadas do caminho, nos injeta felicidade, nos lembra de contemplar uma placa na rua e se sentir inspirado.

É tudo maravilha desse aquário azul. Ame-se.



quinta-feira, 8 de março de 2012



“Acho que posso dizer que é amor, sim. Mesmo que a gente tenha se perdido para que eu pudesse encontrar a mim mesma. Mesmo que a gente tenha se perdido para que você pudesse buscar a si mesmo. É amor porque eu te guardo na lembrança bonita do meu crescimento, da descoberta do que era a co-dependência ou da fusão que subtrai. É amor, porque cantamos juntos, dançamos juntos, choramos juntos, fizemos amor intensamente, trocamos profundamente as angústias da alma, torcemos um pelo outro, nos ajudamos, viajamos juntos, gargalhamos desarvoradamente, dormimos juntos no melhor abraço um do outro, descobrimos novas músicas, sinônimos, livros, enlouquecemos lindamente, brigamos muito, fizemos as pazes várias vezes e fomos embora um do outro quando nada mais era poesia. Não foi triste, mas doeu profundamente.Uma dor resignada porque eu podia ver com clareza que já não nos acrescentávamos nada. E aprendi a trabalhar o desapego e o perdão. E hoje, quando vejo você sorrir, eu sinto que estamos bem e que fizemos a coisa certa. E o amor só pode ser isto: querer que o Outro encontre a felicidade a qualquer custo, mesmo que isso exclua você da plenitude dele. Mesmo que isto exclua o Outro da sua plenitude.”


— Marla de Queiroz



domingo, 4 de março de 2012




encerrando ciclos. começando novos.



Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.  O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.  As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. 
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". 

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és. E lembra-te: tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.


Fernando Pessoa